QUERO MINHA MENINA DE VOLTANão sei por que gosto tanto de bolo. Bolo, Broa, caçarola, de fubá, de laranja, de banana... Importante é ser aquela massa grudenta adocicada, às vezes até demais. Quando estou triste, como bolo, se algo dá errado, como bolo, se é aniversário, como bolo. E como, como, como e não me satisfaz.
Hoje estou embriagada de bolo. Comi demais...
Acho que o meu coração já se acostumou com esse tipo de droga e já não surte mais efeito. Que fazer então?
Quero me livrar desse vício. Vou procurar um grupo de apoio; AA, NA... BA, isso mesmo, “Bolistas” anônimos.
Nada disso. Eu sei de que eu preciso!
Quero minha menina de volta. Aquela meninazinha que eu tomei nos braços logo depois de ser arrancada de meu próprio ventre.
Que eu acariciei e beijei ainda enlameada da parte de mim que doei Durante aqueles nove meses quando a sua vida dependia da minha...
Aquela menina, da qual me separei aos quatro meses de idade. Em razão de uma enfermidade que me levou a um sinistro hospital. E ao reencontrarmos, chorou copiosamente como no dia de seu nascimento.
Quero aquela menina que gostava de caminhar comigo ao visitar o tio que morava longe e assim tínhamos mais tempo para estarmos juntas e conversarmos bastante até chegarmos ao destino.
Quero a minha menina de tranças caipirinha que apesar de seus onze anos, era só uma criança pura, inocente, carinhosa, amável e cheia de sonhos.
Sonhava em crescer, ser rica, ter casa bonita com piscina e carros e acreditava que eu poderia realizar seus sonhos quando eu dizia:
Quando a mamãe ganhar muito dinheiro ela vai comprar pra você.
A menina cresceu.
A flecha foi arremessada, mas meu instinto materno viciado à proteção.
Continua a insistir:
Eu quero minha menina de volta.
Cida Araújo (Trecho do livro: O Manacá Florido)
